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CEPs diferentes

Por incrível que pareça, tudo começou a distância.

Uma mensagem de assunto irrisório no Twitter, uma troca de contatos, MSN, celular, Facebook.

Uma viagem minha para outro país, outro fuso, e estávamos conectados quase diariamente nos falando.

Voltei, planos frustrados de suas férias e de sua vinda para minha cidade.

A vontade de te ver aumentava diariamente sempre que nos conectávamos. As maravilhas do Skype.

Ganhei um dia de folga, e planejei usá-lo para te ver.

Fiz uma reserva num hotel, viajei de avião, ambos fatos inéditos, e aguardei ansioso pelas horas do dia com amigos queridos.

Nem sentia mais frio na barriga. Sentia pontadas.

Tremi quando você me avisou que eu poderia pegar o táxi, depois de esperar por meia hora na recepção. Não me esqueço de puxar um assunto qualquer com o motorista. Logo eu, que odeio conversar com taxistas. Mas era nervosismo.

Viramos à esquerda, numa esquina, e a casa de esquina era a sua. A porta estava aberta e você na sombra do portão. Paguei o taxista, e andei em sua direção. Por mais que eu já tivesse te visto tantas horas pelo monitor, e ouvido tantos “me deixa”, ainda era inacreditável que estava ali, na sua frente, que você é real. Nos abraçamos, nos beijamos, e eu não havia dito nada. E você falava sem parar. Ambos nervosos. Até que eu pensei que seria um bom momento em falar algo e você me perguntou se não diriria.

Descemos a rua, pegamos outro táxi, fomos a um bar, petiscamos carne de onça, tiramos uma foto que virou chaveiro.

Voltamos ao hotel, você dormiu comigo. Pedimos café-da-manhã no quarto, fomos almoçar no shopping, assistimos um filme de terror em 3D, que eu não queria mas você sim, e voltamos de ônibus por não ser seguro, mesmo a duas quadras. Assistimos tevê, discutimos, algo que fizemos em diversas ocasiões, e então ouvimos esta música.

Perdemos a hora do café-da-manhã, comemos numa padaria, saimos do hotel, fomos a sua casa, e então minha carona chegou.

No trajeto eu pensava se aquilo tudo tinha sido real. No quanto queria que você viesse para conhecer minha família e amigos.

Daí, houve a decepção, do que você esperava, do que eu esperava e o que realmente aconteceu.

E aconteceu o distanciamento.

Mensagens que não chegaram como esperávamos, interpretações incorretas ou atrasada, e no meio disso tudo, saudade.

Já havia me conformado, e já tinha consciência que você podia ter seguido com a sua vida.

E quando menos esperava, ambos cederam à saudade.

Só que entendi errado novamente.

2010…

Este ano foi o que mais experimentei.

Começou com um reveillon na praia, pular sete ondas e depois minha primeira viagem dirigindo para Poços de Caldas, a mais longa que já fiz.

Estes experimentos foram feitos com a minha ex-namorada. Aliás, por conta do fim do namoro, passei a fazer terapia. Foi o pontapé inicial para criar coragem de fazer algo que posterguei por muito tempo.

Daí, com isso tudo, resolvi me dedicar à minha vida profissional, que também mudou. Experimentei mudar de emprego.

Experimentei fazer um curso de improviso, depois de ter experimentado assistir Jogando no Quintal.

Depois disso, experimentei a adrenalina, experimentei superar meus limites, e em agosto,  saltei de paraquedas.

Experimentei a desilusão pouco depois.

Experimentei a perda de uma ente querida.

Experimentei voltar a ler quadrinhos.

Experimentei as séries de tv, do começo ou de cabo a rabo.

Experimentei a indiferença e ser ignorado.

Experimentei a alegria dos meus amigos, que estiveram presentes o ano inteiro. Com eles experimentei churrascos, feijoadas, risadas e karaokes. Experimentei ser padrinho de casamento e convidado que tomou porre.

Experimentei conversar com pessoas estranhas e ir sozinho para lugares com outras pessoas que não conhecia e enfrentar a timidez.

Experimentei shows e me dei ao luxo de freqüentar as áreas VIP. Estava presente no primeiro do Snow Patrol no Brasil, vi Jay Kay e seu cocar do Jamiroquai de perto. O tango eletrônico do Gotan Project sentado na primeira fila. Vibrei com o David Guetta e o Black Eyed Peas e penei para garantir um ingresso para o primeiro show do U2 em 2011.

Experimentei beijar uma européia e surpreendê-la.

Experimentei participar do fim de uma jornada escolar da minha irmã caçula, que acompanhei do primeiro ao último ano da escola.

Experimentei a vida sem me preocupar, respeitando os limites e o bom senso.

Experimento abrir os braços para 2011. Experimento pedir a sua companhia. Experimento o inesperado.

pH = 8,5